OPINIÃO: Eleições, pandemia e Cidade Inteligente
Artigo redigido pelo diretor do IMD, Ivonildo Rêgo, e pelo professor Frederico Lopes
21-09-2020 / ASCOM
Artigo publicado pelo jornal Tribuna do Norte, edição de 20 de setembro de 2020.
A pandemia de Coronavírus intensificou ou deflagrou crises em diversos campos da experiência humana, que são sentidas de forma mais complexa e desafiadora nos centros urbanos mundo afora. No entanto, se é inegável que se trata, por sua própria natureza, de um problema global e, até certo ponto, homogêneo, não se pode dizer o mesmo da maneira como as diversas sociedades lidaram com a situação.
O lugar mais sensível para combater tais crises, como dito, são as cidades. A pandemia deveria, portanto, servir como momento de renovada reflexão a respeito de que tipo de infraestrutura urbana devemos construir para tentar superar não apenas os problemas urbanos próprios de sociedades em desenvolvimento, como a nossa, mas também para lidar com questões que surgem em função do período histórico no qual vivemos, marcado por acelerada globalização.
Nesse contexto, a proximidade das eleições municipais no Brasil só corrobora a urgência de se pensar em políticas públicas urbanas que estejam de acordo com os desafios trazidos pelo século 21, e que empreguem de maneira consistente as ferramentas cujo desenvolvimento é oportunizado por nossa época. O conceito de “cidade inteligente” torna-se, portanto, fundamental para o debate público desse momento.
Cidades Inteligentes são aquelas que investem no capital humano e social de modo que a infraestrutura de comunicação tradicional (isto é, transporte) e moderna (conectividade) alimentam de modo sustentável o crescimento econômico e a qualidade de vida. Tudo isso acontece através de mecanismos que permitem a gestão inteligente dos recursos disponíveis também por meio de um governo que possibilite a participação de seus cidadãos nas decisões importantes de suas comunidades.
Sociedades – e cidades – mais inovadoras e desenvolvidas tiveram mais opções de escolhas, no contexto da pandemia, quanto ao desafio de como se manterem em atividade mesmo com o distanciamento social, dando continuidade – ou retomando de forma mais rápida – ao funcionamento da economia e de serviços de educação, mobilidade e segurança, por exemplo.
Isso foi possível, dentre outros motivos, pelo emprego intensivo das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), que são a base da atual revolução tecnológica e também das Cidades Inteligentes. No Brasil, por outro lado, a ausência de políticas públicas que garantam a conexão de qualidade à internet, a participação do cidadão na gestão através de plataformas tecnológicas e a implementação de ferramentas de infraestrutura baseadas nas TICs, resulta em cidades com pior qualidade de vida e de condições de responder a crises como a que enfrentamos.
Sem uma mudança de mentalidade na gestão de nossas cidades, vamos continuar sofrendo com os mesmos problemas e sem resposta para os novos. Este é o momento em que temos de lutar para que haja uma ruptura, do modelo tradicional de se governar, em direção a um modelo participativo e inteligente, tanto do ponto de vista tecnológico como humano e social. Para isso, precisamos escolher prefeitos e vereadores realmente comprometidos com essa ruptura.
Ivonildo Rêgo, diretor do IMD/UFRN
Frederico Lopes, professor e coordenador do Smart Metropolis