O Instituto Metrópole Digital (IMD/UFRN), por meio de seu Programa de Pós-graduação em Inovação em Tecnologias Educacionais (PPgITE), deu início, na tarde desta quarta-feira (29), à 26ª Conferência Internacional sobre Informática na Educação (TISE). Para abrir a programação, o encontro contou com debates sobre os desafios e papéis das políticas públicas no fomento ao uso de tecnologia em práticas educacionais, como no âmbito escolar e científico.

Com atividades que acontecem até esta sexta-feira (1), o Congresso acontece na sede do Sebrae/RN e reúne pesquisadores de diferentes nacionalidades para três dias de debates sobre como a tecnologia é capaz de impactar e transformar as práticas educacionais no Brasil e no mundo.

Para o primeiro debate, o evento contou com a participação da professora da Universidade da República do Uruguai, Ana Laura Revoir, que participou do evento por videoconferência, e da especialista em Tecnologias Educacionais Ana Paula Gaspar. Ambas aproveitaram a oportunidade para expor dados que traçam um panorama sobre práticas e percepções do uso de tecnologias em ambientes de educação.

Ana Laura Revoir, por exemplo, apresentou um quadro com informações acerca desse panorama durante a pandemia de Covid-19 – quando todo o mundo necessitou lançar mão de tecnologias para promover a continuidade da educação. Segundo a pesquisadora, tal demanda, apesar de acentuada durante o período de isolamento social, evidenciou um quadro negativo por parte do acesso público à tecnologia.

Exemplo disso é o dado que demonstra que, na América Latina, 66,7% da população afirmou não contar com acesso à Internet durante o período pandêmico. Esse dado justifica-se, segundo Revoir, principalmente pelo alto valor cobrado por empresas fornecedoras de conectividade. No âmbito da educação, inclusive, apenas 15% dos estudantes das classes mais pobres afirmaram possuir computador.

“Falamos hoje em direito digital, o que abrange não apenas o acesso à tecnologia, mas também uma série de outras questões, nos âmbitos econômicos, democráticos, sociais, entre outros. Déficits nesses aspectos promoveram impactos muito significativos durante a pandemia, especialmente na Educação, já que muitos não tinham acesso à conectividade ou sequer sabiam usar os dispositivos”, comenta Ana Laura Revoir.

Em uma perspectiva mais específica, atentando-se ao Brasil, e com uma abordagem sobre políticas e projetos de fomento, Ana Paula Gaspar complementou o debate. A especialista aproveitou para comentar sobre como funciona o programa Estratégia Nacional Escolas Conectadas (ENEC), cujo intuito é fomentar tecnologias na educação brasileira.

Na ocasião, Gaspar dicosrreu sobre as competências gerais da iniciativa, bem como o andamento da inclusão de Computação na Base Nacional Curricular Comum (BNCC) – ação que, segundo a especialista, ainda precisa avançar e se consolidar no Brasil.

Ana Paula Gaspar ainda aproveitou para comentar sobre o atual estado de escolas no país no quesito de acesso à tecnologia e infraestrutura. Segundo dados apresentados por ela, o país ainda conta com 4,6 mil escolas sem acesso a energia elétrica e 52% das instituições participantes afirmaram não ter conexão Wi-Fi.

TISE

Além do debate, o primeiro dia da TISE 2023 contou com uma abertura oficial, conduzida pelo coordenador do PPgITE, professor Dennys Maia, pelos pró-reitor de pós-graduação da UFRN, Rubens Maribondo, pelo professor da Universidade do Chile, Jaime Sánchez, pelo docente do Departamento de Práticas Educacionais e Currículo da UFRN Flávia Roldan, e pelo gerente de negócios do Sebrae, David Góis.

Com atividades há quase 30 anos – sendo, portanto, um dos congressos em atividade há mais tempo de toda a América Latina –, a TISE 2023 recebeu um total de 136 trabalhos submetidos, dos quais cerca de 30% foram selecionados e hoje integram a ata 2023, já disponível no site oficial do evento e intitulada Novas Ideias em Informática Educacional.

Dentre os autores com trabalhos aprovados na Conferência, encontram-se pesquisadores do Brasil, Colômbia, Chile, Uruguai e Portugal. Todos os trabalhos científicos pautaram-se em eixos temáticos eleitos pelo Congresso – nesta edição, foram 44 áreas diferentes, como Inteligência Artificial na educação, Experiência do Usuário (UX), Massive Open Online Courses (MOOCs), entre outras.

Todos os anos, o evento acontece em diferentes países da América Latina, de modo que docentes e pesquisadores de diferentes nacionalidades expõem trabalhos, formam vínculos pessoalmente e também criam oportunidades para conduzirem novos trabalhos científicos acerca da informática para educação.

Neste ano, a Conferência foi organizada por professores e estudantes do PPgITE, cujo trabalho é reflexo de uma atenção especial que o IMD tem ao tema de tecnologia para educação.

“Desde o princípio, enxergamos a Educação como uma área fundamental, pois sem isso não produzimos transformação nenhuma na sociedade. E tecnologias digitais hoje contribuem muito para essa transformação, tanto é que um dos primeiros grupos de estudos a surgir no nosso Instituto foi o de informática educacional”, comentou o diretor geral do IMD, Ivonildo Rêgo, durante a abertura da Conferência.

Ao longo desta semana, a programação ainda contará com mesas-redondas, palestras, apresentações de estudos, entre outros. Os debates tratarão de temas como inclusão, acessibilidade digital e equidade na integração de tecnologias para aprendizagem.

Dentre os convidados para as apresentações, também constam o pesquisador norte-americano David Cavallo, referência mundial quando o assunto é informática na educação e promotor de projetos na área de inclusão digital; Célia Sousa (Portugal), pesquisadora da área de Tecnologias de Apoio e Comunicação Aumentativa; e os docentes da UFRN Isabel Nunes, Apuena Gomes e Flávia Viana.

Mais informações sobre a TISE 2023 estão disponíveis no perfil da Conferência no Instagram e também no site oficial do evento.